[Amizade]

 

Amigo é uma coisa que a gente perde ao longo da vida. encontramos vários, nos apegamos a alguns e, a certa altura, somos forçados a colocar o prefixo ex antes do nome daquele que enchia nosso coração de carinho e de certeza.

Perder um amigo para a vida, e não por uma fatalidade, é uma dor dilacerante. a gente pensa que amizade é pra sempre, que, quando a gente for velhinho e lembrar de tudo que aconteceu, estarão perto de nós aqueles que a gente escolheu como a família do coração.

Mas a vida tem dessas decepções. uma hora é você que sai de cena.
em outra, a vontade é daquele que te dava toda certeza do mundo de que ficaria ali para sempre.

A primeira vez em que eu tive que tornar um amigo ex-amigo, senti uma dor que acabou comigo. fiquei sem entender, chorei, chorei. por um tempo, foi difícil acreditar de novo na beleza, na simplicidade e nas diversas nuances de uma amizade.

Optei por deixar a amargura de lado e seguir em frente, ainda com esperança de que aquela dor eu não sentiria mais. novas amizades vieram, as que importavam de verdade permaneceram. e não senti aquela dor de novo, não daquele jeito. mas outras dores apareceram pra mostrar que a vida é assim mesmo, por mais que a gente se pergunte se já não teve a nossa cota.

O bom é que dor ensina. e depois que a gente sente uma que parte o coração em mil pedacinhos, aprende a relativizar as outras. e, melhor ainda, renova o olhar diante dos amigos de sempre, aqueles por quem a gente sente todo o amor do mundo e em quem temos a sorte de encontrar reciprocidade.

 

 


[Relato da Daniela Arrais,
mais muito pertinente também a minha pessoa]




A saudade, a ausência. Alguns vazios.

Dias passados encontrei alguém e a presença foi indiferente.
É simplesmente estranho não sentir o toque no coração de duas almas que já estiveram tão unidas. Havia a moça que  resolveu fazer medicina e se mudou da cidade. Outra se casou tão jovem e disso eu só soube na véspera. No semestre seguinte me mudei e deixei amizades que não resistiriam ao tempo. Hoje há muita formalidade nos nossos encontros. Agora nos vemos em casamentos de amigos em comum, é de todo engraçado – ou constrangedor digo de passagem.
Há gente tão próxima, que só aparece pra desejar ‘feliz aniversário’ por sites de relacionamento. Conto isso tristemente . Uma moça que foi coração mais amigo e que se casará em dois meses, e veja bem: não tive ‘tempo’  sequer de conhecer o noivo. Teve outros que soube da paternidade quando vi as fotos em álbuns de amigos em comum. Outra que atravessouo oceano e amadureceu mais do que os que ficaram.
Tem aquele rapaz que fui apaixonada na pré adolescência e que foi meu melhor amigo. Um erro da vida o fez partir bruscamente dos meus dias,  ainda que estando diariamente do meu lado por mais dois ou três anos, levando com ele meia dúzia de amizades tão valiosas naquela altura da vida. Incluindo a da menina de voz doce e coração gentil.
Por outra ironia perco do mesmo modo – só que dessa vez estando do outro lado da janela- em véspera do mais recente aniversário, um outro ombro.

As pessoas mudam, seres humanos evoluem, eu envelheço. Estranho ver alguém que, em certa época da vida, já foi confidente, de trocar segredos, de abraçar apertado, de ligar pra pedir favor e emprestar consciência. E hoje é um desconhecido. Alguém que vejo em imagens recentes e não reconheço o olhar, alguém que vejo num novo círculo de amigos e não há traço familiar. Alguém que já soube de minhas dores, risos e desamores, das minhas rimas cafonas, das inseguranças noturnas e paixões oblíquas. Mas uma pessoa que hoje nem mais o nome me soa próximo. Como uma roupa usada da coleção passada, que ficou pequena ou gasta com o tempo: não cabe mais e tampouco reconhecemos sua utilidade no presente, sequer há falta ou ausência latente – se houvesse, teria mantido junto, e não sumido. Mas já fez parte de alguma história, da minha vida. De mim. [como disse a nath]

O estranho é que já não doí tanto. Essa indiferença talvez assuste, mas aponta uma maturidade nos relacionamentos. Certa vez uma amiga (foi há tanto tempo que já não me recordo o nome) disse que apesar desta aparente calmaria, sempre faltará uma peça no quebra cabeça da vida: ‘Cada pessoa conseque preencher um espaço perfeito no meu coração, sua perda deixará um vazio permanente’ -dizia. ‘Cabe ter sabedoria e reconhecer se vale a pena contemplar ou ignorar o espaço que fica’.
Estava certa.



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