Cá te encontro em ruas lotadas, depois do empate trágico do meu time, te vejo pela vida. Depois do que me aconteceu, tive de encontrar uma solução radical. Um remédio, uma defesa, uma pantomima. Gostaria de ser niilista, mas para uma alma tão cristã seria impossível. Gostaria de ser cínica, mas você já faz tão bem este papel que acho que não levo jeito pra esse tipo de competição. Gostaria de ser eremita -até tenho tentado- mas preciso ganhar a vida. Escolhi então (sim, encare como profunda escolha), esta paixão rude e soberana: a paixão da indiferença. Conviva.
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Medo de se apaixonar Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Continuar a Ver »
Acho que guardo minha paixão no processo de ouvir – ou não – os outros.
Meu medo guardo para noites de sábado em vespera de concurso.
Minha dor guardo nas meias palavras agressivas para pessoas que conversam dentro do cinema.
Meu Amor guardo em orações ao fim de cada dia.
Minhas amizades guardo no tempo que dedico ou dediquei a cada uma delas.
Minha fé vem do ouvir e ler a Palavra.
Minha escrita na internet, por outro lado, guarda confabulações desprentenciosas – aquela tal de paixão leve.
O futebol guarda toda violência simbólica do cotidiano reprimido (todas mesma, andei notando).
A música só venho ouvir em dias não nublados então ela não tem nenhuma paixão.
Agora a Paixão maiúscula guardo nas cartas manuscritas que nunca envio. Cartas de vida e morte que desenho em madrugadas de vento frio. Cartas mentais para destinatários desconhecidos, ou, por outro lado, conhecidos até demais. Cartas que não viram objetos de paixão alguma. Apenas existem e isso basta.
Acho que falta arte visivel na minha vida.
Talvez dança, esporte, amigos concretos – não de concreto. Talvez música.
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Já aconteceu comigo. Me apaixonei e reapaixonei. Me estrepei e me dei bem. E muitas vezes pensei: sou muita letra para o alfabeto desse indivíduo, muita palavra para o dicionário desse ser não-pensante. Sua mãe pode avisar, a melhor amiga pode mostrar o cartão amarelo, o mundo pode mandar você descer: uma mulher apaixonada vai além das forças. Mas a paixão acaba, é uma espécie de onda grande. Vem e te derruba, vem e dá um caldo, vem e faz você engolir água e ficar tossindo. Depois, só a sensação de falta de ar, medo de que venha nova onda forte e faça você ajoelhar no fundo do mar, arranhar o joelho e sair sangrando. A paixão faz a gente perder o biquíni com aquela onda gigante. Você fica desnorteada pensando o-que-houve e, ao mesmo tempo, procurando o biquíni e protegendo os peitos dos olhos curiosos. Paixão faz a gente fazer maluquice e um dia pensar nossa-que-maluquice. Continuar a Ver »
O menino que toca as músicas agitadas que eu mais gosto e não sabe disso. Pena que é triste.
O menino dos sonhos tortos que já passou dias alentando meus sonhos. Pena que tem namorada.
O menino por quem eu sempre fui encantada e que eu ajudei a encontrar namorada. Idem acima.
A menina que foi morar em Portugal e tem idade, dinheiro e anonimato sobrando para cometer muitos erros. Pena que é menina.
O menino que queria ganhar muito dinheiro enquanto simplismente torcia pelo se time, mas depois descobriu um caminho mais enriquecedor. Pena que o momento já passou.
O menino que enchia minhas tardes de luz e poesia e imagens tão tristemente lindas e lindamente tristes. Pena que a queda foi alta demais.
A menina que fala intelectualidades e sofre por amores em demaseio. Pena que já namora um amigo meu.
O menino que faz um monte de coisas que me entediam, mas pensa um monte de coisas que me inspiram. Pena que é cruzeirence demais.
O menino que eu acabei de conhecer. Pena que acabei de conhecê-lo.
A menina que sonha sonhos mais altos que os pés buscando fora de si um Amor que já possui. Pena que dança demais.
O menino que tem o ombro que encaixa direitinho na minha cabeça. Pena que faleceu.
Mas há o menino que me sorri e clareia meus dias. Pena que o faço sorrir tão pouco.
O menino que tem alegria na medida certa, vive no meu momento certo, o conheço há tanto tempo e nossas quedas foram na medida certa
O menino que dança pouco -quase nada, vive na alegria desmedida dos dias, torce pro time certo.
Esse menino está sempre querendo me fazer rir, até quando eu grito com ele sem razão.
Pena que me dá muita razão para gritar com ele.