
04 - Andar por Brasília de madrugada
“Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado (…) Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério.”
« Clarice Lispector
Particularmente gosto de andar a pé.
Pelo ar frio desértico das entre quadras.
Pela sensação de segurança que não sinto em nenhuma outra cidade.
Pelo vazio. Pelo caminhar na volta pra casa (e eu nessa cidade tive muitas casas).
Pela Esplanada de madrugada.
(E a degradação da juventude da cidade – nas palavras de um Amigo de fora…)
A iluminação dos monumentos em contraste com o abandono da Universidade – por exemplo.
Pelos carros no Eixão e seus limites de velocidade às 3 da manhã.
Ou pela falta deles. Pelas passarelas assustadoras.
Pelo cheiro de orvalho. Pelo farfalhar das árvores.
Pelo vento gélico que sobe do Lago entre abril e agosto.
Pelo cheiro de chuva dos canteiros da L2 de outubro a março.
Pela solidão.
É.. pelo sorriso interior que tudo isso implica.

Eu sou assumidamente apaixonada por Brasília e gosto de andar pela cidade em qualquer horário, mas a madrugada na capital federal é realmente maravilhosa.