Há uma estranha luz que não reconheço o brilho.
Vem do alto? Vem do lado? De onde?
Talvez fosse azul. Talvez fosse branca. Incrivelmente branca.
Creio eu que é branca, mas posso acreditar se disser azul.
Um monitor de algum computador. Ou de qualquer coisa. Não é isso que fará a diferença.


Interrogatório.




Busca inviável de uma verdade que ninguém confessará.
Talvez por isso a luz se encontre ali. Produzindo a penumbra.
Propiciando o momento.
Há  a exaustão física. A qualquer momento o segredo será revelado.
Entregará o que preciso saber. Cedo ou tarde.
É o que meus olhos dizem para os seus.
Você nao parece entender. Ou pior: Não me leva a sério.
Eu posso ver sua alma daqui. E sei seus medos. Sei o que lhe falta.
Sei o que espera pra enlouquecer. Para ceder.


Está me testando? Queres tu saber até que ponto vai a crueldade humana personalizada em mim?
Não estas em condição de fuga. Nem de escolha. Apenas diga. Prometo lhe deixar vivo. Se for um bom sujeito talvez lhe deixe até em Paz.


Sei que vários momentos tudo esteve em xeque. Estive por um triz de saber o seu limite. Mas você resiste.
Não tenho outra escolha a não ser continuar meu ofício.


De todos os olhares que vi nesta arte tão cruel os seus são mais profundos e os que mais tenho vontade de desvendar. Sinto imantada a não desistir de ti. Por meio segundo quase que ponho tudo a perder. Quase me rendo a compaixão que reverbera do seu olhar. Mas não me sinto digna de recebe-la. Não na posição que me encontro.
Posição de Algoz.


Não fite – lhe digo tremulamente.


E neste instante sinto que perco a chance de sair vitóriosa dessa ação.


Atiro-lhe o objeto qualquer que tenho em mãos.
A dor física é sentida no barulho que despedaça algo que não vejo.
Perco seus olhos e sinto a noite chegar com a respiração ainda hesitante.
O sono. O medo. E o espelho que acabo de esfanicar.


A luz se apaga.



[partida e chegada, solidao que nada...]


Alguém me espera
E adivinha no céu
Que meu novo nome é
Um estranho que me quer


Ela é um satélite
E só quer me amar
Mas não há promessas, não
É um novo lugar


Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada





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