Arquivo de: fev.2010


Foi o que ela disse depois do risinho e do ‘Amigaaaaaaaaaa…’

eu ri, porque com ela, eu tenho que rir.

do mesmo modo que pra outra eu tenho que parecer séria.

e pra outra tenho que parecer forte.

Mas o  caso é que são cinco garotas, eu e outras quatro.

Duas duplas que conheci em ambientes diversos.

Então é isso que tenho pra dizer:


“Amigaaaaaaaaaaa, a vida é agridoce!”
\o/ se entrega


[agridoce]


Perco a consciência, mas não importa,

encontro a maior serenidade na alucinação

Clarice Lispector


I know, i know…


feyerabend

“A depressão esteve comigo durante um ano; como um animal, distintamente, uma coisa que se podia encontrar no espaço. Eu poderia levantar, abrir meus olhos, escutar — Ela está aqui ou não? Nem sinal. Talvez esteja dormindo. Talvez ela me deixe em paz hoje. Cuidadosamente, muito cuidadosamente, eu saio da cama. Tudo está em silêncio. Eu vou até a cozinha, começo a preparar o café. Nenhum barulho. TV -Bom dia América-, David Qual-é-seu-nome. Eu como e vejo os convidados. Lentamente a comida preenche meu estômago e me dá força. Agora uma rápida ida ao banheiro e saio para minha caminhada matinal – e lá está ela, minha fiel companheira, a depressão: “Achou que poderia sair sem mim?”.

Feyerabend …

[a menina e o passaro]

 

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.

Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…

Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…

E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.

Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.

Tenho de ir dizia.

Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…

Eu também terei saudades dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”

Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar.

Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…

Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…

-



Ruben Alves

Domingo, 21 de fevereiro

clarice

Luciana Lima me veio com essa: Então amanheci concordando em gênero, número e grau.
(mesmo grau não sendo aí uma concordância ;P)

vsp

Uma das tantas coisas chatas do convívio social com estranhos é o diálogo unilateral,
esse estranho hábito que algumas pessoas têm de simular conversas com as outras,
quando na verdade querem apenas um ouvido para ser complacente com seus problemas.
Não é partilhar, sentir-se amparada ou ouvir meia dúzia de verdades inconvenientes e necessárias
o que essa rapaziada quer; essa curiosa espécie quer apenas que o interlocutor intervenha com algumas tantas expressões fáticas e um ou outro balançar de cabeça, demonstrando concordância com seus pontos de vista exuberantes e alucinadamente verborrágicos.


Então, um dos grandes desafios da minha vida é tentar agir com naturalidade  quando eu constato o coadjuvantismo da minha presença nesse momento solo altamente bocejativo imposto por estranhos articulados que, por alguma razão misteriosa, acreditam piamente no fato de que eu preciso saber com riqueza de detalhes sobre a vida deles.
Daí eu me lembro da Hannah, de A Vida Secreta das Palavras (um dos filmes mais bonitos da galáxia), e penso em como seria maravilhoso se as pessoas falassem e escutassem o que de fato é para ser falado e escutado – e para quem fizer alguma diferença em suas vidas.


Penso também em como seria incrível poder desligar o aparelho de audição nos momentos em que eu não tiver presença de espírito e dignidade humanitária o bastante  para bancar uma pessoa bacana,compreensiva e engajada com os problemas que afligem os meus irmãos bastardos de espécie, ou quando eu simplesmente quiser ouvir só o silêncio,  e não todo o blablablablabla-professora-do-Charlie-Brown do mundo.


Não faria a mínima diferença para quem fala,
mas faria, certamente, uma diferença infinita para mim,
para minha incompetência social
e para minha titubeante sanidade.




Confiram o original:  [http://negociodemenino.blogspot.com/2010/02/vida-secreta-das-palavras-alheias.html]

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