Tamara tinha um fardo desde a oitava série.
Ela voltava a pé com o Ricardo todos os dias. Falavam de tudo e de todos. Ricardo namorava Carolina. Tamara era amiga de Carolina.Um belo dia, Tamara sentiu Ricardo a olhar diferente e rolou um clima. Acabaram ficando, mas ambos prometeram pela morte da mãe que ninguém saberia disso.Ricardo , como bom homem que é,não soube manter o segredo e contou para um amigo,que contou para o amigo, que chegou ao ouvido do ex-namorado de Carolina. Em questão de horas, a escola inteira já sabia da façanha.Tamara nunca havia se sentido tão mal, era a primeira vez que percebeu o desprezo no olhar das colegas de turma. Ficou isolada. Ao chegar em casa, desolada, deitou na cama. O telefone tocou.
Era Carolina.
“Me conte Tamara, como é ser a outra?”
Essa pergunta foi inesquecível. Não sabia o que responder. No outro dia, a cena foi mais constrangedora ainda.Todas as garotas da sala, discípulas de Carolina,Tamara tiraram as penas do travesseiro e trouxeram em uma sacola. Quando Tamara entrou no pátio, elas jogaram as penas e a chamaram em coro de Galinha. Geminiana nata, Tamara ignorou o ato e passou reto. Esse dia foi um marco.
Alguns anos depois, todas as garotas se desculparam pelo comportamento. Para Tamara, não fazia a menor diferença. O que ela não sabia, naquela época, é que a história iria se repetir durante todo o século. Desde então, ela sempre foi a outra. Aquela que destrói relacionamentos, aquela que acaba com lares felizes, aquela que termina com namoros e que se mete onde não é chamada. Ela, por outro lado, já enxerga que é a azarada da história que se envolve com os caras errados. E pior, eles se apaixonam por ela. Tudo vai a mil maravilhas. Eles pedem paciência e coragem, ela espera, espera, espera. Até que eles a chutam e optam pelas namoradas ou, pior, por uma terceira pessoa. Tamara é a garota que é enrolada e descartada. Na maioria das vezes, os namorados voltam porque as namoradas não sabem sofrer. Para ela, quem não sabe sofrer não merece o amor. Tamara é PhD em dor. É a melhor coisa que sabe fazer na vida.
Hoje, ela está disposta, após ser abandonada novamente, a bater o pé, beber e dar escândalo e socar a parede. Ela sabe que sempre esteve sozinha, mas pela primeira vez percebeu que não precisa de uma migalha pra depois continuar passando fome.
Ela se demitiu. Quer fechar as contas e arrumar outro emprego.
