Talvez fosse a história dela que mais me surpreendia. Lembro-me de todas as palavras ditas com voz embargada, numa noite chuvosa de um verão distante. Para a minha surpresa, dias desses, ao sair de casa rumo ao trabalho, encontro-me casualmente com o pivô de todo aquele sofrimento anterior. Apesar de ainda ser jovem, ele aparentava mais do que sua pouca idade. Ainda tinha os traços perfeitos, lábios bem desenhados e cabelo viçoso, exatamente da forma que era descrito pelo seu antigo amor e a minha lembrança de um breve encontro com o casal.O rapaz andava com ar vago, como se quisesse encontrar uma resposta para algo. Estava sozinho, provavelmente vivia assim também, já que foi a sua opção para o resto da vida. O medo de sofrer por um amor verdadeiro tinha feito com que ele decidisse não se envolver com ninguém, principalmente com aquela menina apaixonada que deixara há pouco mais de cinco anos. A menina, no entanto, jamais teve medo de se entregar novamente, mesmo que aquilo significasse mais uma queda. Faziam um casal perfeito, se completavam em seus gostos, mas, mesmo assim, era melhor estarem separados. Naquele dia, ao me avistar na rua, ele baixou rapidamente a cabeça para não ter que me cumprimentar, certamente ele recordou do tempo em que éramos todos amigos e muito mais felizes. Hoje ela prepara suas bodas com um homem bom, que fazia tudo por ela, zelava por sua saúde, bem-estar, assim confiava à relação um clima de respeito e lealdade. Mesmo assim, às vezes, vinha aos pensamentos da jovem o seu grande amor do passado, aquele havia se tornado inesquecível, mesmo que agora fosse preciso lembrar-se apenas dos momentos ruins da sua existência.