Os dias passavam mais lentamente como se a natureza tivesse alterado de propósito o relógio biológico de tudo, até as gotas da chuva que caiam, o faziam mais vagarosamente, o verde das árvores e o colorido das flores exibiam um pálido cinza, mas Carla sabia que era tudo sintomas da separação. A separação, pensava ela com a mão no queixo e sobre a mesa olhando para o quintal acinzentado, era tudo que ela mais temia desde que Gabriel a contou sobre sua viagem, uma história que talvez terminasse ali, quase como se nunca tivesse acontecido.

Não o julgara mal, era para o seu futuro, quem sabe dos dois, pensava ela acreditando na possibilidade de Gabriel voltar anos depois, talvez décadas para reviver o amor abortado pela mudança de país, mas não, e agora caía uma lágrima, Gabriel nunca vai voltar, vai conhecer outra pessoa, alguém com quem pode dividir os sonhos por lá mesmo e ter filhos num país estranho – “E essa pessoa vai viver a minha vida… Quem sabe eu entre para um convento ou mude meu nome para Serafina e vire professora…” outras lágrimas caíam agora molhando um pedaço de papel que Carla tinha guardado desde o início do namoro, nele estava escrito em letras alternadas de vermelho e azul “Carla e Gabriel para sempre”, assim com contornos inocentes mas sinceros e de repente Carla fechou os olhos e desejou com toda a força do seu coração – “Gabriel, fica comigo…” e quando abriu os olhos podia jurar que a árvore do seu quintal estava esverdeando de novo, mas não teve tempo de reparar direito porque tocou a campanhia – “Entrega para senhorita Carla” – disse um entregador com um buquê de rosas que realmente estavam com um rosa vistoso sobre suas pétalas, e havia um cartão, o coração de Carla acelerou – “É a letra dele com cores alternadas de vermelho e azul!” – “Carla, cancelei tudo, vou ficar com você pra sempre porque eu te amo e você é minha vida e meu futuro, assinado Gabriel…”

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(suspiro profundo)

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