Acho que guardo minha paixão no processo de ouvir – ou não – os outros.
Meu medo guardo para noites de sábado em vespera de concurso.
Minha dor guardo nas meias palavras agressivas para pessoas que conversam dentro do cinema.
Meu Amor guardo em orações ao fim de cada dia.
Minhas amizades guardo no tempo que dedico ou dediquei a cada uma delas.
Minha fé vem do ouvir e ler a Palavra.
Minha escrita na internet, por outro lado, guarda confabulações desprentenciosas – aquela tal de paixão leve.
O futebol guarda toda violência simbólica do cotidiano reprimido (todas mesma, andei notando).
A música só venho ouvir em dias não nublados então ela não tem nenhuma paixão.
Agora a Paixão maiúscula guardo nas cartas manuscritas que nunca envio. Cartas de vida e morte que desenho em madrugadas de vento frio. Cartas mentais para destinatários desconhecidos, ou, por outro lado, conhecidos até demais. Cartas que não viram objetos de paixão alguma. Apenas existem e isso basta.
Acho que falta arte visivel na minha vida.
Talvez dança, esporte, amigos concretos – não de concreto. Talvez música.
Vai chegar um dia que não irei mais aguentar a saudade, e ela transbordará pelos meus olhos. Pense que isso não são lágrimas de tristeza, mas também tampouco de alegria. É incrível como pude viver sem te ter por mais de semanas, sendo que hoje uns dias voltam a me sufocar. Saudade é uma dor inexplicável, parece que o tempo pára. E não há distração que o faça passar. Não sei o que faço com meus dias que parecessem ser tão compridos, nem como cessar os meus pensamentos quando a noite chega. É como estar sozinha, sem estar. É como se um vazio encontrasse meu peito e fizesse o doer intensamente até eu esquecer. Mas dão alguns poucos minutos e volta, até a próxima esquecida. Saudade é parecer que o mundo vai acabar, e de repente perceber que não é tão grave assim. Saudade é ser dramática aos montes e de repente se auto-confortar sabendo que logo vai passar, tão logo como irá sempre voltar.
Ele olhou pro céu e disse que olhar as estrelas é contemplar a morte e mesmo assim acha-la incrivelmente bela, grande parte delas emitiu seu último brilho alguns anos antes da Terra se formar e mesmo assim hoje estamos aqui admirando, algo deixou de existir físicamente mas durante muito e muito tempo será reconhecido pelo brilho de seus intensos momentos de existência. O fim de alguma coisa não tem que ser necessariamente ruim. Por que você diz isso desta forma? – perguntei baixinho, já enxugando a lágrima safada que escorria pelo rosto que se apoiava no ombro dele. Você sabe. Não, não sei. Eu amo você, mas escolhi ficar com ela.
Me desculpe por isso. Prometo que que me esforçarei para que sejam as últimas linhas.
Não falo isso pra pranto ou vela, apenas por uma questão de memória.
Desculpa por ter agido muita das vezes como se só eu tivesse importância, ou ter te tratado mal, ou não ter sido perfeita nem quando você merecia. Desculpa por descontar em você coisas que você não merecia ter ouvido, por não te entender e deixar você segurar uma barra maior que deveria ter segurado. Desculpa por ter apoiado a base do meu crescimento todo nas suas costas jovens. Desculpa por ter te causado dor, por ter te feito chorar, por ter deixado você sozinho. Desculpa por não ter estado com você todas as vezes que precisou de mim, por ter te julgado, por ter subjugado sua capacidade de ser grande, mesmo sendo tão novo. Desculpa por te fazer se jogar de cabeça sabendo que não tinha pilares pra te sustentar caso a gente caísse. Desculpa por te forçar a crescer, por te forçar a lutar, por te forçar a ser por mim o que ninguém jamais tinha sido.